Os filmes norte-americanos costumam citar o "Brazil" como rota rumo à impunidade. Até o incrível Hulk, o monstro verde dos gibis, usa a Rocinha no Rio de Janeiro como refúgio na sua película mais recente. Não é só na ficção que isso ocorre. Lembrem-se do britânico Ronald Biggs, preso na Inglaterra após o roubo a um trem postal em 1963 e que fugiu para cá em 1970. Aqui Biggs acabou tornando-se uma celebridade de certo modo.
Pois essa vocação mereceria maiores investimentos. Hoje o turismo está cada vez mais segmentado. Há opções para a terceira idade, para o público GLS, para deficientes etc. Então, por que não usamos a impunidade como alternativa turística? Isso pode parecer ofensivo à ordem legal. E é. Porém, a indústria voltada à exploração sexual também não é? Aliás, muito mais agressiva à moral e nem assim suficientemente combatida.
Nesse contexto, cabe avaliar como se desenvolveriam as excursões para a impunidade. Trata-se da adequação de um produto nacional ao imaginário dos estrangeiros, tal qual o carnaval, por exemplo. É amplamente praticado no país, não como recreação, mas como negócio. Ou seja, o esquema é profissional. Também é uma atividade que conta com uma forte inserção na mídia, que não a incentiva, mas a divulga, garantindo a lembrança da marca no mercado consumidor.
Imaginem as possibilidades. No pacote mais simples, o habeas corpus preventivo precisaria ser adquirido à parte, o que no completo seria um benefício incluso. Na exclusiva versão Dantas, para banqueiros multimilionários, o adquirente ainda levaria uma súmula vinculante como brinde. E cada grupo que chegasse ao país, além de um guia, ainda teria a assistência 24 horas de um advogado criminalista.
Para os curiosos, como alternativa às turnês pelas favelas, haveria a visita de algumas horas a um presídio só para vivenciarem o destino dos menos favorecidos. E para os que preferem esportes radicais, a melhor opção seria ir a um estádio de futebol, com direito a briga de torcida organizada, podendo depredar banheiros e disparar tiros a esmo.
Além disso, o momento é favorável para esse processo. Até o uso de algemas foi relaxado, impedindo que os nossos futuros hóspedes sejam submetidos a esse tipo de constrangimento. Talvez o único problema que o turismo da impunidade venha a enfrentar seja o superfaturamento, mas como o cliente também vai dar calote, que se adapte o ditado. Ladrão que rouba ladrão ao menos vai aproveitar o feriadão.