segunda-feira, 30 de junho de 2008

Nuvens de Algodão


Por Fábio Souza

Chega um momento na vida em que as verdades do mundo, por mais cruéis que sejam, nos tornam adultos. E as mesmas, nos apresentam uma versão desfigurada em relação ao que imaginávamos, quando inocentes e meras crianças. Era impossível imaginar que as criancinhas eram jogadas pela janela, sentir o gosto da guerra, entender que as lágrimas não vinham somente para expressar sono e fome e que, a própria fome vai além do que pensávamos.

Os desenhos animados foram substituídos pelos noticiários sensacionalistas e sangrentos, que trazem á tona, o mundo que nos fora escondido. O lobo de Hans Christian Anderson agora está nas ruas, na nossa casa, agindo debaixo de nossos próprios olhos. A lendária Chapeuzinho Vermelho sai dos livros e assume o papel de nossas crianças, vítimas da violência infantil. A imagem real, que faz jus á nova era é toda a insatisfação do bicho homem de Drummond, nos tornando passíveis à irracionalidade, à mediocridade humana.

Agora somos adultos, temos um futuro para planejar. Somos responsáveis ou devemos ser. Temos funções, um emprego, talvez uma família para zelar. Votamos, nos preocupamos e os problemas começam a procriar-se. As contas do mês estão chegando, algumas se juntarão com as do mês passado, mas não se preocupe, para isso criaram o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito). Amigos, a diversão acabou!

Ser adulto, profissão nostálgica! Acordar de manhã e trabalhar o dia todo para pagar os impostos abusivos. Ser expectador da violência urbana, participar dela, ou bancar o presidiário atrás das grades da nossa casa, enquanto as ruas são tomadas pelos vândalos “cidadãos”. Profissão ingrata. Chamam isso de “crescer e ter responsabilidades”, mas a isso dou o nome de propaganda enganosa, me esconderam as verdades, não assinei contrato algum e quero os meus direitos de volta.

Direitos! Você tem dinheiro? Então você não tem direitos, apenas deveres. Dever de ficar calado perante as injustiças contra os pobres, dever de concordar com a política corrupta que domina o seu país, dever de ser vítima, de ser explorado, por que a voz dos pobres nesta dura realidade, é nada mais nada menos que silenciosa. E dever o supermercado, a padaria, a farmácia, por que vives com um salário mínimo, pois o máximo é ilusão.

Mas felizmente temos outras opções. Se for pobre, tente mudar o mundo, meu caro. Tente sobreviver na terra dos gigantes e leões. Confesso que essa é a maneira mais difícil e árdua. Se conseguir, me avise. Se for rico, fique longe da ganância, não seja fútil nem auto-suficiente, seja solidário e humilde, mas antes, tente encontrar essas qualidades no mundo tão individualista que vives. Se nenhuma dessas opções te serve, meu amigo, assalte um banco, compre um foguete e fuja pra lua.

Ser adulto, como é difícil ser adulto. Ser humano, mais ainda! Nos culpam por tudo, do aquecimento global ao comunismo na China, e eu que há pouco tempo só via chineses nas Aventuras de Jackie Chan. Como dizia Chaplin, o melhor é retrogradar. Morrer primeiro, nos livrar logo disso. Trabalhar 40 anos, ficar jovem e aproveitar a aposentadoria. Virar criança, não ter responsabilidades, se tornar um bebezinho de colo, voltar ao útero, passar os últimos noves meses flutuando e terminar tudo com um ótimo orgasmo. Não seria perfeito?!

Não vejo evolução em nascer e me tornar adulto, ou se existe, não concordo! Não vejo vantagens em descobrir que o mundo que conhecíamos era fictício, imaginário, e que agora nos é entregue para ser mudado. Ser criança talvez seja a melhor profissão, acreditar que tudo é azul, esperar o verão, aquela manhã de domingo, um belo riacho de águas cristalinas, céu azul e as nuvens! Ah, as nuvens, elas ainda são de algodão.






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